Bon Odori: Tradição viva em Londrina
Publicado na Folha de Londrina
Edição 19 de agosto de 2022
O Grupo Hikari se reúne semanalmente para celebrar a
cultura e popularizar seus costumes
e danças tradicionais
Para celebrar a cultura japonesa, popularizar seus costumes e danças tradicionais, o Grupo Hikari de Londrina se reúne semanalmente e dá continuidade ao Bon Odori.
Originalmente conhecido na cultura japonesa como "O-Bon" ou "Bon" é um festival anual que ocorre durante o verão nórdico entre julho e agosto no Japão.
O Bon Odori significa dança do finado e é uma tradição usada para celebrar as almas homenageando a sabedoria dos antepassados com danças em grupo entre outras homenagens.
Antigamente o Bon Odori era comemorado no dia 15 de julho pelos japoneses, mas, de tempos para cá, diferentes regiões do Japão passaram a adotar a celebração em variadas épocas. As datas mais comuns são entre os dias 13 a 16 de agosto, período em que os japoneses limpam os túmulos dos seus antepassados. colocando oferendas e arranjos de flores no local e também lanternas e alimentos como legumes e frutas para os espíritos em frente a um altar budista chamado de "Butsudan".
Em meio às ruas e templos budistas durante todo o festival a dança Bon Odori é realizada ao som dos tambores Taiko, os tambores japoneses, e com a apresentação de dançarinos vestindo yukata (quimono de verão)
O Bon Odoria também é celebrado em comunidades de imigrantes japoneses, por seus descendentes, podendo qualquer pessoa da comunidade participar da dança.
Em Londrina, o Grupo Hikari, fundado em 2005 é um dos grandes representantes dessa cultura pelo Paraná e também no Brasil, já que percorre todo o país em eventos que exaltam e memorizam a cultura japonesa. O grupo se reune todas as segundas feiras para ensaiar o Bon Odori, Matsuri Dance e a percussão do Taiko para acompanhar as novas letras que chegam ao grupo para as apresentações.
"A gente já tinha morado em Londrina e sempre se reunia com um grupo de amigos, mas nos mudamos para Porto Velho (RO), ficamos 25 anos morando lá, mas quando voltamos a morar aqui, não encontramos mais ninguém, o pessoal tinha se espalhado. Começamos a frequentar uma igreja budista aqui e na nossa época, tinha muita gente que gostava de Bon Odori, já eu não danço, fico mais na coordenação" explica Luiz Kehiti Kuromoto, 72 anos, um dos coordenadores do grupo e que deu início ao Grupo Hikari ao lado da esposa Irene Kuromoto
Composto por homens e mulheres de diferentes idades e profissões, os integrantes já possuem contatos com outras comunidades nipo-brasileira pelo Brasil e participam de encontros levando todo o pessoal do grupo. Conhecidos na região, são chamados pelas associações culturais japonesas para criar oficinas com a finalidade de ensinar a dança e levar os costumes para várias cidades do Paraná e Brasil. Já participaram de eventos em São Paulo, Salvador, Belém, Belo Horizonte e Porto Alegre.
"Tentamos reagrupar o pessoal, a maior parte era de amigos de uma associação e começamos essa dança que já tinha quase desaparecido no Paraná. As pessoas que dançavam foram envelhecendo e não houve a renovação. Por exemplo havia as associações de Cambé, Arapongas, Rolandia, Maringá, nesses lugares todos, tinha em Assaí e Uraí, eles faziam o Bon Odori dentro das igrejas, mas era um Bon Odori tímido, pouca gente. Foi assim que montamos esse grupo, aprendemos e ensinamos o nosso pessoal a dançar, colegas da associação budista e aí saimos para dançar. O primeiro lugar foi a cidade de Colorado (PR)" completa Luiz
Um dos objetivos iniciais da união sempre foi resgatar e manter viva a tradição japonesa e também divulgar o Bon Odori e o Matsuri Dance na comunidade para os descendentes e não descendentes de japoneses.
"Era uma dança comemorativa de Finados, com a modernização tiramos esse significado e virou um sinônimo de festa porque se fosse no Brasil seria nos dias 1 e 2 de novembro para seguir o Dia de Finados. Mas fora da época não havia graça, também começamos a colocar músicas fora do repertório das tradicionais, colocamos músicas de sucesso do Japão; hoje ele não está mais na verdadeira essência. Hoje a gente faz do Bon Odori uma festividade" explica.
Também organizado pleo Grupo Hikari, anualmente no mês de novembro é realizado o "Odori Fest" em Londrina que abriga uma variedade de apresentações artisticas com destaque para o Bon Odori, Matsuri Dance, comidas típicas, artesanato, "chuva de moti"(tradicional bolinho de arroz) e outras atrações ligadas à comunidade nipo-brasileira do Paraná.
Irene Kuromoto, 72 anos também é coordenadora do Grupo Hikari, casada com Luiz, fala do momento em que tiveram que dar uma pausa nos encontros por conta da pandemia, o cuidado foi mais essencial, principalmente pela idade dos participantes.
" O legal do Bon Odori é que qualquer um pode entrar, a gente está dançando e os passos são repetidos várias vezes, então você acaba decorando e dançando. Temos alunos de 20 anos e de 90 anos dançando juntos. É uma gracinha. Ficamos 2 anos e meio sem aula por conta da pandemia, retornamos agora em maio e foi muito bom. Fizemos uma festa para a volta, chamada de Shinenkai, que significa "Bem Vindo" comenta Irene.
A idéia do Odori Fest nasceu por conta da participação em eventos com outros grupos de dança em diferentes cidades para celebrar a cultura. As festividades ainda arrecadam fundos para entidades locais como o Hospital do Câncer de Londrina e a Associação Paranaense de Amparo às Pessoas Idosas - Wajunkai - de Maringá.
"Quando o Grupo Hikari começou a dançar na Aliança Cultural Brasil Japão , depois de alguns anos eu achava tão lindo aque grupo grande dançaqndo alegre, eu falei para o meu marido: porque não fazer a nossa festa e chamar outras cidades? Olha a coragem!
Em 2005 começamos a fazero Odori Fest"
Parcerias - Em meio a risadas, danças e confraternizações, os participantes que frequentam as reuniões semanalmente conseguem manter viva a tradição.
Um deles ó Celso Tetsuro Suono, 51 anos que está presente em todos os ensaios e adora ajudar.
"Quando eu era pequeno estudava lingua japonesa e lá tive contato com o Bon Odori. Aqui é um grupo de amigos, tem o pessoal que já está há mais tempo e ajuda também a passar as coreografias. Estou desde o início da turma. Essas danças são tradicionais, então as coreografias representam o movimento do trabalhador, dos nossos antepassados. As coreografias já existem há muito tempo, só vamos treinando elas.
Tokie Soragi completou 90 anos e ganhou bolo e várias homenagens do grupo que frequenta há dez anos . Ela conta como sentiu falta do grupo durante a pandemia. Agora já com as vacinas em dia e a situação um pouco mais tranquila voltou a marcar presença.
"Fez falta, este ano eu consegui vir umas três vezes. Antigamente eu dançava mais, já faz anos que frequento aqui. Antes viajava com a turma para todo lugar, conta Tokie, antes de receber os parabéns surpresa dos amigos".
Kleber Takahashi Morikawa, 30 é quem ajuda nos ensaios do taiko, a percussão que dá ritmo ao Bon Odori.
"Comecei com o Grupo Hikari um pouco antes da pandemia em 2020. Eu estava no Ishindaiko desde 2008, faço parte deste grupó com outros integrantes que estão aqui no Hikari. O Bon Odori apesar de eu ver nas fotos e conhecer faz algum tempo, na parte técnica é um pouco novo para mim, estou me integrando. Vejo que é muito importante para a saúde do pessoal mais de idade, eles se encontram e se divertem".
Toshihiko Tan, 92 anos também é daqueles que acompanham o grupode outros festivais, sempre em parceria com os colegas nas reuniões para ensaio nas segundas feiras. Ele assiste a tudo, não é de dançar, mas participa de algumas viagens e aprecia o objetivo da união.
" O Luiz e a Irene me apresentaram ao grupo e eu gostei de apoiar as causas. No Grupo Hikari a maioria é de meia idade, se reune e dança, se exercita e também faz campanhas educativas. Acompanho principalmente esse propósito de ajudar as comunidades mais carentes. "
Quando o Grupo foi fundado, o objetivo era reencontrar amigos, celebrar a cultura e resgatar a dança que já estava sumindo do sul do país. Hoje, após 17 anos é possível notar que todos os planos se concretizaram. Além das surpresas e possibilidades de viajar, conhecer o Brasil, organizar atividades filantrópicas, criar festivais e tudo mais que o o carinho pela dança e cultivo de boas tradições traz para a memória e vida de quem participa.
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